Grande Curitiba

5 pontos que ajudam as mulheres na área de T.I

Especialista em programação explica sobre capacitação, oportunidades e desafios da presença feminina no mercado de tecnologia
1 de março de 2021 às 10:54
Mariel Reyes Milk é CEO da {reprograma}. (Foto: Divulgação)

COM ASSESSORIAS – Ao longo dos anos, a trajetória da mulher no mercado de trabalho melhorou, porém, muitos obstáculos ainda precisam ser enfrentados quando o assunto é diversidade de gêneros, principalmente na área de tecnologia. Apenas 35% dos estudantes matriculados no ensino superior na carreira de T.I são mulheres, de acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Outro ponto de destaque é a capacitação de mulheres trans e cisgênero, que deve ser levada em consideração. A CEO da {reprograma}, startup social paulista que ensina programação para mulheres trans e/ou negras, Mariel Reyes Milk explica cinco pontos importantes sobre a preparação feminina para o mercado de trabalho. Confira:

1.Síndrome do impostor: o primeiro passo é trabalhar o indicador mentiroso, que está relacionado ao fato das mulheres não acreditarem na capacidade delas em aprender a programar e se enxergarem como programadoras, desta forma é necessário trabalhar bastante essa mentalidade.

2.Referências femininas: ter um modelo de mulher que elas podem se identificar e se inspirar. Na {reprograma} prezamos por ter ex-alunas negras e/ou trans como professoras e monitoras em nossas turmas, assim as alunas podem conectar com as histórias das professoras e se espelham para alcançar o sucesso profissional.

3.Segurança: as mulheres têm que se sentir em um ambiente seguro, onde elas podem aprender e fazer perguntas sem julgamentos. O ideal é que isso aconteça em um local onde há somente uma mulher no meio de vários homens, que já estão bem mais incluídos na área da tecnologia.

4.União: é essencial que haja a possibilidade das mulheres se apoiarem, porque é por meio da sororidade que elas entendem que não estão competindo e que juntas elas podem chegar mais longe, desta maneira ao longo do tempo elas se ajudam.

5.Rede de apoio: as redes sociais podem ser ótimas amigas nessas horas, pois com elas é possível compartilhar vagas de emprego e treinamentos. O Telegram, por exemplo, é muito útil porque é um canal de conversa aberta, no qual também utilizamos na startup durante e depois dos cursos de back e front-end. Essa rede de apoio faz com que as mulheres não se percam no meio do caminho e não se sintam sozinhas, além de possibilitar a aquisição de conhecimento constantes.

Oportunidade de formação para as mulheres na área de T.I

Atualmente, menos da metade das mulheres negras brasileiras, cerca de 46%, exercem trabalho remunerado e apenas 8% das que trabalham no mercado formal ocupam cargos de gerente, diretora ou sócia proprietária de empresas. Na fatia de 46% que estava trabalhando, 20% atuavam como autônomas, de acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria Indique Uma Preta e pela empresa Box1824.

No ano passado, a {reprograma} realizou, de maneira gratuita, seis cursos de 18 semanas, com aproximadamente 35 alunas por turma, formando mais de duzentas mulheres para atuarem no mercado de tecnologia e contribuindo para a ampliação da diversidade e inclusão no setor.

Quase metade delas, negras e em situação de vulnerabilidade, tiveram a oportunidade de se formarem em front-end ou back-end, utilizando ferramentas modernas e bastante requisitadas no setor, como React e Node, o que possibilitou que as alunas saíssem preparadas para atender à crescente demanda das empresas.

A startup social se prepara para lançar em março duas turmas de programação do Todas em Tech, iniciativa da startup social e do BID Lab, Laboratório de Inovação do Grupo Banco Interamericano de Desenvolvimento. O projeto tem como objetivo ensinar programação front-end e back-end e dar a oportunidade de um futuro melhor, por meio da tecnologia, para mulheres em situações de vulnerabilidade social, econômica e de gênero, com foco em mulheres negras e/ou trans.

Ao longo de dois anos, o projeto irá impactar 2,4 mulheres em todo o Brasil através de suas oficinas e formará 400 mulheres desenvolvedoras.

Desafios no mercado de trabalho

Desde o início da pandemia, a procura por profissionais da área de tecnologia aumentou, e até 2024 haverá a criação de mais de 420 mil vagas na de T.I, de acordo com informações do Banco Mundial.

Após a formação em tecnologia da informação, as mulheres encontram alguns desafios iniciais no mercado de trabalho, aponta a startup paulista, veja abaixo:

– encontrar empresas que querem investir nessas mulheres, que possam desenvolvê-las, de júnior para sénior, por exemplo;
– conseguir lidar com o fato de ser a única presença feminina no setor de tecnologia da empresa, afinal, há pouco tempo mulher era incentivada a procurar uma profissão nas áreas humanas e biológicas, enquanto a área de exatas era indicada aos homens;
– superar comunidades machistas dentro e fora da empresa;
– acreditar que podem continuar aprendendo e crescendo na área.

“Acredito que muitas empresas já estão adotando a cultura de diversidade, principalmente na área de tecnologia, pois perceberam que pessoas diferentes dentro de uma equipe pensam de forma distinta e enxergam os problemas de maneiras diferentes”, explica Reyes.

Atualmente, cerca de 85% das mulheres que passaram pela {reprograma} estão empregadas e para manter os bons números de empregabilidade, a startup paulista vai lançar, no segundo semestre de 2021, uma plataforma que fará uma conexão entre alunas e empregadores.

Durante o programa Todas em Tech, a {reprograma}, o BID Lab e as empresas parceiras abordam alguns pontos em comum, como:

– A necessidade de geração de emprego, uma pesquisa do IBGE mostra que o desemprego é 39% superior entre as mulheres;
– Falta de mão-de-obra especializada em tecnologia no país, estima-se em 260 mil o déficit de programadores no Brasil, de acordo com a Brasscom;
– Apoio a mulheres vulneráveis, pois público-alvo do projeto são mulheres desempregadas e com renda familiar de até três salários mínimos, além de mulheres trans, cuja expectativa de vida é de 35 anos no Brasil. Apenas 6% das mulheres transgêneros estão no mercado de trabalho formal, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais