Grande Curitiba

Visibilidade LGBTQIA+ é celebrada na Câmara Municipal de Curitiba

Em homenagem da vereadora Giorgia Prates – Mandata Preta a pessoas de destaque da comunidade LGBTQIA+, discursos frisam a necessidade de enfrentar o conservadorismo
18 de março de 2024 às 16:03
(Foto: Rodrigo Fonseca/CMC)

Na noite da última sexta-feira (15), a Câmara Municipal de Curitiba promoveu a sessão solene com o título “Transformar para Avançar – uma noite pela visibilidade LGBTQIA+”, de iniciativa da vereadora Giorgia Prates – Mandata Preta (PT).

Compuseram a mesa: Simmy Larrat, secretária nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, do Ministério dos Direitos Humanos; Toni Reis, ativista LGBTQIA+; Fabian Algarte, coordenador nacional do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (Ibrat); Gisele Alessandra Szmidt e Silva, vice-presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Paraná (OAB/PR); Antonio Vitor Barbosa de Almeida, coordenador do Núcleo da Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Paraná; Fernando Ruthes, assessor de Direitos Humanos – Diversidade Sexual da Prefeitura Municipal de Curitiba; Lauro Lopes, representando o Conselho Municipal da Diversidade Sexual; Alicia Krüger, assessora de Políticas de Inclusão, Diversidade e Equidade em Saúde do Governo Federal (online).

Saudação oficial

Giorgia Prates agradeceu a presença de todos e destacou o fato de ser a primeira vereadora negra e lésbica na Câmara Municipal de Curitiba. “Agradeço por toda a resistência de uma comunidade que, em pleno ano de 2024, precisa lutar para ter seus direitos básicos garantidos. Mas nós somos gigantes e vamos avançar”, disse a vereadora. Para ela, é necessário que a comunidade LGBTQIA+ olhe pra frente sem esquecer os que vieram antes na luta, como Márcio Marins, falecido em 24 de abril de 2020.

“Estamos hoje nesse parlamento para homenagear vocês e dizer o quanto cada uma aqui é importante. Para que cada uma se olhe e se sinta, que é o mais importante”, afirmou Giorgia. Ela destacou a presença da secretária nacional e a possibilidade de avançar na elaboração de políticas públicas que garantam os direitos constitucionalmente garantidos às pessoas LGBTQIA+. “A gente usa muito a expressão ‘ser parceiro’ e isso significa deixar o outro ter seu espaço de fala”, afirmou Giorgia.

A comunidade LGBTQIA+ é a solução para o fim do patriarcado

Para secretária nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, Simmy Larrat, a sociedade criou um modelo adoecedor . “Um modelo de ser homem e um modelo de ser mulher, como se só existissem essas duas possibilidades de existências. Um modelo inalcançável até para a própria heterocisnormatividade”, afirmou. Para ela, deve ser difícil ser homem e, muito mais, ser mulher, dentro de um conceito patriarcal que se materializa num arquétipo que divide e exclui. A secretária disse que a comunidade LGBTQIA+ não é o problema, mas a solução para uma nova ideia de humanismo. “Para isso, devemos ocupar espaços de poder”, ressaltou a secretária.

Para Larrat, a partir do momento em que a comunidade LGBTQIA+ sair da invisibilidade, o sistema patriarcal vai ruir: “Qualquer sistema, seja ele capitalista ou socialista, deve perceber que nós somos a solução e que nossa presença vai destruir um inimigo de nome patriarcado, que é essencialmente excludente”. A secretária frisou a importância do desenvolvimento de uma política nacional voltada às pessoas LGBTQIA+. “Vamos discutir o que vai entrar nessa política na quarta conferência nacional, que acontecerá em maio do ano que vem. Já contamos com a participação de todos nessa mobilização”, convocou a secretária.

“Querem nos empurrar em uma valeta”

“Fico feliz por estarmos ocupando a Casa do Povo, pois nós também somos povo. A população não binária está na Câmara Municipal, todos juntos construindo esse momento e todos os outros”, disse Fabian Algarte, coordenador nacional do Ibrat. Ele exaltou o movimento travesti e as identidades trans masculinas que trabalham em conjunto em todo o país. “A dignidade é para todos. Vamos construir esse Centro de Cidadania com todas as parcerias possíveis. Existe toda uma história do movimento LGBTQIA+ em Curitiba e podem contar conosco para a gente ir em frente juntos”, confirmou Algarte.

Gisele Alessandra Szmidt e Silva, vice-presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Paraná (OAB/PR) enalteceu a representatividade da vereadora Giorgia Prates. “Nossa existência significa, acima de tudo, resistência. A sociedade não quer ver LGBTQIA+ ocupando lugar nenhum, muito menos o poder público, ou mesmo andando na rua. Querem nos empurrar em uma valeta, como fizeram com a Dandara, em Fortaleza e depois jogar uma cal em cima. Vamos fazer uma revolução nesse país”, disse a advogada, referindo-se à Dandara dos Santos, travesti morta na cidade de Fortaleza, em 15 de fevereiro de 2017.

Antonio Vitor Barbosa, coordenador do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado do Paraná, parabenizou Giorgia Prates pela coragem de pautar o debate. “É muito simbólico a gente estar ocupando esse espaço numa cidade conservadora. Nossa presença é uma fissura no status quo”, disse Barbosa. Ele esclareceu que a Defensoria Pública é uma instituição parceira e democrática. Fernando Roberto Ruthes, assessor de Direitos Humanos – Diversidade Sexual da Prefeitura de Curitiba, disse que a sessão solene é uma oportunidade para que a comunidade LGBTQIA+ mostre sua força. “Precisamos ocupar espaços como a Câmara, que é a Casa do Povo”, disse.

Alívio ao ouvir a expressão ‘todes’ nessa sessão solene

Lauro Lopes, representando o Conselho Municipal da Diversidade Sexual, disse que a comunidade LGBTQIA+ foi humilhada e discriminada durante uma audiência pública sobre educação, realizada na Câmara Municipal de Curitiba, no último dia 7 de março. “Sou professor favelado do Tatuquara e sinto alívio ao ouvir os companheiros falarem ‘todes’ nessa sessão solene”, disse ele. Lopes entende que a sessão solene representa um ato de ousadia e que a fachada da Câmara recebeu uma iluminação colorida para representar a comunidade LGBTQIA+ . “Somos resistência numa sociedade que não quer nossos corpos. Resistiremos a esses ataques e discursos de ódio que Curitiba nos coloca e faremos o enfrentamento necessário”, concluiu.

Toni Reis, ativista LGBTQIA+, disse que a vereadora Giorgia não mudou o comportamento dela como vereadora. Ele também exaltou o trabalho de Simmy Larrat no governo federal. “Ela tem feito um mandato republicano. Tem recebido todas as posições ideológicas e políticas”, disse. Reis lembrou que a Câmara aprovou o Conselho Municipal de Direitos Humanos, uma reivindicação que só se realizou após 30 anos de luta.

“Acabou a era das trevas, começou a era das ‘travas’”

Por teleconferência, Alicia Krüger, representando a ministra da saúde Nísia Trindade, frisou que Curitiba é uma cidade conservadora. “A biologia nos diz que somos animais e o conservadorismo sempre procurou nos encurralar. E o que acontece quando um animal é encurralado? Uma hora ele reage. É o que estamos fazendo”, disse. Krüger agradeceu às ancestrais que ensinaram que a comunidade LGBTQIA+ deve debater de igual para igual. “Acabou a era das trevas no Ministério da Saúde e começou a era das ‘travas’. As transsexualidades não são mais consideradas transtornos mentais e isso está valendo no Brasil”, encerrou.

Homenagens

Adriana Barquilha
Jornalista formada pela PUC-PR, por meio do programa Universidade Para Todos. Trabalha com jornalismo sindical – atualmente, no Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba. É conselheira-fiscal do Sindicato dos Jornalistas do Paraná.

Amanda Viola
Conhecida como Amandina. Especialista em gestão de projetos sociais, com vasta experiência no terceiro setor. Atuou em projetos voltados às crianças, aos jovens e à proteção animal.

Brigitte Beaulieu
Drag queen. Participante da cena LGBTQIA+ desde 1992. Trabalhou em casas noturnas e na Feira Mercado Mundo Mix.

Bruna Micaela Padilha
Conhecida como Mica. Artista independente, nascida no interior do Paraná. Desenvolveu a prática da Escrita Afetiva.

Carol Winter
Multiartista curitibana. Atua há mais de 10 anos na área audiovisual como diretora de cena, atriz, roteirista e montadora de videomaker. Integrava o Rock Camp Curitiba, projeto social que atua na musicalização de crianças e adolescentes. É membro fundadora do coletivo Kings of the Night.

Chris Gouvêa
Primeiro policial militar transexual. Formado em Direito e pós-graduado em Direito Penal e Processo Penal.

Diego Barausse
Juiz no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná e membro da Comissão de Igualdade de Gênero do mesmo órgão. Mestrando em Direito na Escola de Magistratura.

Éricka Gabrielly
Mulher trans, pós-graduada em Auditoria Bancária, Gestão Financeira e Mercado de Capitais. Atua como analista no Banco do Brasil.

Gil Baroni
Diretor, produtor, roteirista e sócio da produtora Beija-Flor Filmes. Dirigiu e produziu o filme Alice Júnior, exibido no Festival de Berlim.

Hell Crossetti Pereira
Pessoa não binária, PcD e neurodivergente. Artista performática e escritora.

Karollyne Nascimento
Ouvidora-Geral da Defensoria Pública do Paraná.

Kassia Ellen Martins
Presidente da Associação Nacional de Juristas pelos Direitos Humanos LGBTI.

Kéu Araújo
Pessoa não binária, defensora dos Direitos Humanos e Ambientais. Estudante de Ciências Econômicas na UFPR. Foi presidente da Casa do Estudante Universitário (CEU). Participou do coletivo Vozes Negras.

Liza Minelli
Criadora do Grupo Esperança, ONG voltada à defesa dos direitos de travestis e transexuais que desenvolve parceria com a Prefeitura de Curitiba.

Marcos André Cordeiro
Também conhecido como Barbie Plus Size. Produtor de eventos desde 2017. Participou do projeto Fui Pará, voltado ao empoderamento de pessoas nortistas residentes em Curitiba.

Majo Rockenbach de Farias
Artista performática, produtora cultural e pesquisadora. Integra a equipe Siamese como bailarina. Fez parte do elenco da Companhia de Teatro da UFPR entre 2012 e 2023.

Marise Felix
Formada em História, com pós-graduação em Educação de Jovens e Adultos. Ativista do movimento LGBTQIA+ há 20 anos.

Nadini Ribas de Oliveira
Mulher preta e bissexual. Produtora cultural e estudante de Engenharia Ambiental. Trabalha como técnica do meio-ambiente no Instituto Água e Terra.

Noe Carvalho
Cantora, compositora e atriz. Atua em Curitiba desde 2017. Pessoa trans, não binária.

Ricardo Nolasco
Diretor, performer, ator, bufão e professor de artes cênicas e performáticas. Cofundador da Selvática Ações Artísticas.

Stéfani Bello
Artista performática formada em artes cênicas pela Unefespar. Pesquisadora na área de cultura e sexualidade da Universidade Federal da Bahia. Desde 2022, integra a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e a delegação brasileira da Organização das Nações Unidas (ONU).

Vic Vilandez
Baixista e professor de música. Integra a Banda Mais Bonita da Cidade desde 2022. Compartilha nas redes suas experiências como músico atípico e pessoa trans masculina. Palestrante autodidata sobre gênero e sexualidade.

Fonte: Câmara Municipal de Curitiba