Grande Curitiba

Mensagens de mulher morta na frente dos filhos mostram medo que ela tinha do ex: ‘Ele vai fazer algo pra mim’

Suellen Rodrigues, de 29 anos, tinha medida protetiva contra o autor, o advogado e ex-policial Jaminus Quedaros. Ele se entregou à polícia quatro dias após o crime, nesta quinta (3).
4 de novembro de 2022 às 09:39
(Foto: Divulgação)

Mensagens de áudio e texto enviadas por Suellen Rodrigues antes de ser morta pelo ex-marido em Curitiba revelam o medo que ela tinha de Jaminus Quedaros de Aquino, advogado criminalista e ex-policial civil. O material foi obtido pela RPC.

Suellen foi assassinada com pelo menos cinco tiros na frente dos filhos, na segunda-feira (31), quando deixava as crianças na escola para o primeiro dia de aula. Ela tinha uma medida protetiva contra o ex, e um mandado de prisão tinha sido expedido contra Jaminus seis dias antes do crime, mas não chegou a ser cumprido.

O homem só foi preso nesta quinta-feira (3), após se entregar à polícia.

Com medo de morrer, de acordo com a polícia, Suellen fugiu com os filhos de Prudentópolis, na região central, para Curitiba.

Em um áudio, Suellen relatou, chorando, uma briga entre os dois. Na ocasião, ela já tinha a medida protetiva e denúncias contra Jaminus.

“Doutora do céu, você precisava ver a cara dele, o jeito que ele estava dentro do carro. Sabe? Eu tenho muito medo dele. Tomara que eles cheguem logo [polícia], que eles passem logo aqui. E o pior que eu nem vou acordar minha vó ali, coitada, porque já tem pressão alta, né? Então, eu tô aqui no escuro, apaguei tudo as luzes, as crianças né, e tô esperando aqui. Tomara que eles cheguem logo, que passem logo por aqui”, disse a vítima.

De acordo com o advogado da família de Suellen, Jackson William Bahls Rodrigues, no áudio, a vítima relatava a uma advogada o descumprimento de uma medida protetiva por parte de Jaminus.

Em outra mensagem, Suellen disse que o suspeito não a deixava “em paz”.

“Ele tá muito transtornado, ele vai fazer algo pra mim, eu sinto isso.”

Em diversas mensagens de texto, Suellen reforçou para a advogada que a atendia, em diferentes datas, que tinha medo do ex-marido.

Relatava, também, que o advogado tinha comportamento agressivo – no mesmo período em que as mensagens foram enviadas, Suellen já tinha medida protetiva contra o suspeito.

O crime

Suellen foi morta a tiros em frente à Escola Municipal Professora Donatilla Caron dos Anjos, no bairro Uberaba. Uma câmera de segurança registrou o crime. Assista abaixo.

Câmeras de segurança registraram que o carro onde estava o assassino estava estacionado em frente à escola. Suellen aparece caminhando com o filho de dez anos e a filha de oito, quando o homem sai do carro correndo em direção a eles.

Depois de uma discussão de pelo menos 40 segundos, o homem disparou contra a vítima. Suellen morreu no local. Após a morte da mãe, as crianças foram acolhidas pelo Conselho Tutelar e, depois, foram encaminhadas para os avós maternos.

Prisão

Nesta quinta-feira (3) Jaminus se entregou à Polícia Civil, em Curitiba, acompanhado de advogados de defesa. Ele ficou quatro dias foragido após o crime.

Conforme a polícia, após se apresentar, o suspeito foi conduzido ao Complexo Médico-Penal em Pinhais, na Região Metropolitana da capital.

Os advogados de defesa de Jaminus, Elson Marcelino e Tainan Laskos, afirmaram por meio de nota que houve negociação com a polícia antes da apresentação de Jaminus, para garantir que o suspeito ficasse em um local adequado por ser ex-policial civil.

A nota diz ainda que o suspeito permaneceu em silêncio por orientação da defesa, porque “no momento é prematuro levantar qualquer tese defensiva” e que analisa a “tragédia” com ” o respeito e cautela que se faz necessário”.

A RPC teve acesso ao mandado de prisão preventiva contra Jaminus, expedido pela Vara Criminal de Prudentópolis no dia 25 de outubro.

A prisão de Jaminus foi decretada por ameaça, violência doméstica, e descumprimento de medida protetiva de urgência.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) disse que suspendeu o registro profissional do suspeito. Um processo ético disciplinar pode levá-lo à exclusão definitiva da Ordem.

A Polícia Civil disse, em nota, que o cumprimento do mandado foi “prejudicado” pela regra eleitoral que proíbe a prisão ou detenção de eleitores – salvo exceções – de 5 dias antes a 48 horas depois das eleições.

As exceções previstas no Código Eleitoral são: flagrante, em virtude de sentença criminal condenatória por crime inafiançável, ou por desrespeito a salvo-conduto.

O calendário eleitoral deste ano estabelece que eleitores não poderiam ser presos de 25 de outubro às 17h do dia 1º de novembro.

Fonte: G1