Grande Curitiba

Policias militares filmavam torturas durante abordagens no Litoral do Paraná, mostram imagens

Imagens estavam em celulares apreendidos. Segundo denúncia do Ministério Público, em um dos episódios, agentes agrediram, deram choques e obrigaram homem a usar cocaína
15 de fevereiro de 2023 às 07:10
(Foto: Reprodução)

Policiais militares, investigados pela Justiça Militar, filmaram torturas em abordagens no litoral do Paraná. A RPC teve acesso em primeira mão às imagens.

Os cinco policiais investigados, entre eles dois irmãos, foram alvos da Operação Fish, do Ministério Público do Paraná (MP-PR) e se tornaram réus.

Os irmão respondem por diversos crimes, como posse irregular de arma, invasão de domicílio, tráfico de drogas e tortura que eles mesmos filmavam.

Uma das gravações a que a reportagem teve acesso é de maio de 2021 e foi gravada em Pontal do Paraná. Na imagem, estão Rodrigo Marchesi, policial da Rotam de Guaratuba, e o irmão dele, também policial, Ricardo Marchesi.

A reportagem entrou em contato, mas a defesa dos irmãos não se manifestou.

No vídeo, segundo o MP, o homem sentado ao canto da casa é vítima da tortura dos dois policiais. As imagens foram registradas pelo celular do próprio agente.

“Ô seu porco, come essa porra toda aí”, diz um dos policiais, a que a vítima responde: “Ô senhor, eu tô comendo aqui, senhor”.

O aparelho foi apreendido em operação do Ministério Público. Os dois são réus pelos crimes de tortura, abuso de autoridade e invasão de domicílio.

Obrigado a comer maconha

Na denúncia, os promotores relatam que uma das testemunhas disse que o então companheiro havia sido intensamente agredido por policiais militares e obrigado a ingerir maconha.

Ainda segundo a testemunha, antes de deixar a casa, os policiais ameaçaram voltar e, caso encontrassem a no local, colocariam fogo no imóvel.

Para os promotores, não há qualquer justificativa para a entrada dos policiais na casa, já que não havia mandado de busca e apreensão, nem qualquer notícia de flagrante.

Para o MP, são fortes os indícios de que os policiais entraram na residência de forma clandestina: sem determinação judicial e fora das condições estabelecidas em lei.

As investigações apontaram ainda que os dois irmãos participaram de mais uma tortura, em agosto do ano passado, em Guaratuba.

De acordo com a denúncia, também aceita pela Justiça Militar, os irmãos Marchesi e um terceiro policial, Sidney Vettori Moura, entraram em outra casa também sem mandado judicial ou indícios de flagrante delito.

Segundo a denúncia, para localizar a droga e descobrir quem eram os compradores, os denunciados agrediram um dos moradores com chutes e socos, ameaçaram matá-lo e forjar a existência de outras drogas.

Os promotores dizem ainda que, com arma em punho, os policiais ameaçaram matar três pessoas, inclusive uma mulher grávida.

De acordo com a denúncia, os policias também agrediram um outro homem. Além de socos e chutes, deram choques elétricos nele e obrigaram o homem a inalar duas buchas de cocaína de forma rápida e continuada.

O uso da droga foi filmado por Ricardo Marchesi e a imagem foi encontrada no celular do PM.

À RPC, a defesa do PM Sidney Vettori de Moura afirmou que ele não teve qualquer participação nos crimes.

Carro servia de depósito de armas e drogas

Além dos crimes de tortura e abuso de autoridade, em outro processo, os irmãos respondem por tráfico de drogas e posse irregular de arma de fogo.

Ao aceitar a denúncia, o juiz Leonardo Bechara afirma que há indícios para a instauração de ação penal, uma vez que os policiais, supostamente, mantinham um depósito dentro de um carro estacionado no pátio da 3ª Companhia do 9ª Batalhão de PM, em Guaratuba.

O veículo era usado para guardar drogas como maconha, crack e cocaína. No mesmo carro também foram encontradas armas e munições escondidas em um pote de primeiros socorros.

Além dos irmãos policiais, também são réus no mesmo processo os agentes Olimpio Fernandes de Oliveira, Juliano Santa Rosa, Fernando Maciel da Silva e Sidney Vettori moura.

O advogado de Fernando e Juliano disse que não teve acesso à integra da investigação e que, por enquanto, não vai se manifestar. A defesa de Olimpio nega as acusações e qualquer participação do policial no caso.

Em nota, a Polícia Militar do Paraná, por meio da Corregedoria Geral, diz que está acompanhando e colaborando com as investigações e que os policiais envolvidos estão afastados das funções.

Os irmãos Marchesi estão presos desde agosto de 2022, no Complexo Médico Penal, em Pinhais na Região Metropolitana de Curiotiba.

Os dois são réus em quatro processos na Justiça Militar pelos crimes de tortura, violação de domicílio, posse ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas. Se condenados, a pena pode passar dos 10 anos de prisão.

Fonte: G1