Supera Rua: participantes retomam condições e se classificam em concurso público
COM ASSESSORIAS – Lançado em março de 2024, o programa Supera Rua já coleciona histórias de superação e retomada da autonomia de pessoas que um dia estavam em situação de rua e, atualmente, com seus direitos assegurados, conseguiram acolhimento, acompanhamento de saúde e recolocação no mercado de trabalho. Em 2025, mais cinco participantes demonstraram a importância da iniciativa inédita da Prefeitura de Pinhais, por meio da Secretaria de Assistência Social (Semas). Eles se classificaram para a segunda fase do concurso público que irá contratar novos auxiliares operacionais no município.
O acompanhamento dos usuários que se inscreveram no certame foi um processo contínuo e alinhado à rotina de atividades do Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas) de Pinhais. Lá, os participantes do programa frequentam atividades semanais, dirigidas pelas equipes técnicas. Além disso, eles cumprem rotina no Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que desenvolve projetos terapêuticos em oficinas, e atuam diariamente nas Secretarias de Obras Públicas (Semop) e de Meio Ambiente (Semma). Os objetivos envolvem a promoção de transferência de renda, reinserção familiar/comunitária e encaminhamento para serviços socioassistenciais.
“Inicialmente, eles participaram de uma oficina que abordou a importância da estabilidade de um concurso público e a necessidade de manter uma rotina de estudos. Durante esse encontro, eles receberam explicações sobre o edital, com destaque para os principais tópicos da prova, além de indicações de materiais de estudo confiáveis e estratégias de resolução de questões”, explica Laylon Ricardo de Morais, educador social, do Departamento de Proteção Social Especial, da Semas.
“Para aqueles que avançaram na primeira fase, reforçamos a importância de manter o foco nos estudos, destacando que, independentemente do resultado final, o conhecimento adquirido poderia ser aproveitado de outras formas no mercado de trabalho e no dia a dia. Esse trabalho integrou o processo de fortalecimento da autonomia dos usuários dentro do programa de superação da situação de rua, incentivando-os a enxergar novas possibilidades por meio da educação”, completa o educador social.
O trabalho como inclusão social
Marco Stecz, da Gerência de Calçamento e Acessibilidade Equipes Próprias, da Semop, supervisiona as atividades dos participantes do programa inseridos na rotina da pasta. “Eles estão aprendendo os tipos de serviços que eles podem executar, trabalhar em equipe, ter responsabilidade. Nós delegamos algumas funções conforme a capacidade de cada um, e estamos tendo bons resultados, isso gera neles a total condição de trabalhar em qualquer empresa, em qualquer frente de trabalho, porque o resultado colhido é muito bom. São responsáveis, não faltam, têm interesse em aprender e aprendem bem, desenvolvem um trabalho muito bom”, avalia.
“Esse projeto mudou minha vida”
É o que diz Everton Alves de Paula, de 43 anos. “Eu vivia na rua, não trabalhava, achava que nunca mais ia conseguir melhorar. Eu vim pedir ajuda, estou lutando pela minha filha [menor de idade, acolhida por medida judicial], mas por mim, primeiramente. Se eu não estiver bem, não tem como eu cuidar dela. Então foram aparecendo as oportunidades para mim e fui abraçando. Apareceu o Supera Rua e com a ajuda do programa também fiquei sabendo do concurso e me inscrevi. Eu fui, fiz a prova, tô aguardando o resultado e vou ficar firme. Acho que fomos bem, estamos esperando agora para ver se o nosso nome vai estar lá”, projeta.
Além do concurso, Everton também aproveitou para fazer um curso durante o programa. Ele planeja montar uma barbearia. “Eu fiz um curso de barbearia, peguei o certificado, comprei todas as máquinas, tudo com o dinheiro que eu ganhei no Supera Rua. Tenho todos os meus aparelhos, coisas que eu consegui e achei que eu nunca ia conseguir. Comprei várias coisas para mim, que estou juntando lá na chácara, para a hora que eu for embora, abrir uma barbearia, alugar uma casa com a sala”, planeja.
Da fome à classificação
Depois de passar três anos em situação de rua, Matheus Ferreira de Almeida, de 28 anos, conheceu o Creas de Pinhais. Foi acolhido e encaminhado à Casa de Acolhimento Provisório Social Esperança, instituição de acolhimento provisório e casa de passagem credenciada ao município de Pinhais. Depois disso, aproveitou a oportunidade quando soube do programa Supera Rua. “Agora estou voltando a trabalhar. Antigamente eu nem pensava em serviço. E o trabalho demonstra que você está bem, para você ir para frente, não depender dos outros. Meu objetivo é isso, crescer na vida, voltar a estudar, ter um bom emprego, ter um dinheiro. Fazer uma família”, pontua.
Para que Matheus estivesse no aguardo do resultado de um concurso público, após a classificação para a segunda fase, o primeiro passo foi o acolhimento. “Queria falar só falar o quanto que o pessoal do Creas me ajudou, porque eu não conhecia. Eu vinha aqui, dava para tomar um banho, dava para almoçar, às vezes, tomar um café, numa época que dormia com fome na rua”, agradece.
O vestibulando
Leonardo Henrique Correia, de 34 anos, também foi aprovado para a segunda fase do concurso, mas sua maior pretensão é prestar o vestibular para a área de Tecnologia da Informação. Ele já teve contato com a área, e agora mira a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPr) para realizar um sonho, que passou a enxergar com o Supera Rua.
“O programa está me dando uma nova visão, de que eu posso sair da situação de rua, que posso ir além. Eu quero ver se consigo fazer o vestibular, entrar no cursinho preparatório que a prefeitura oferece para poder ver se eu consigo entrar na faculdade. Eu tinha iniciado o curso, mas só fiz o primeiro ano e tranquei. Agora, quero ver se eu consigo entrar na UTFPr”, vislumbra.
No Supera Rua, Leonardo atua com o pessoal da Secretaria de Meio Ambiente. “A gente cuida da parte de paisagismo, corte, poda, parques. Eu nunca trabalhei com isso, já trabalhei como diarista, com telemarketing, agora quero ver se consigo uma vaga na área de TI para voltar para o mercado”, acrescenta.
No caminho certo
“Não foi fácil sair da situação de rua. Eu passei por muitos problemas e se não fosse esse programa, essa casa que acolhe a gente, um conjunto total da Prefeitura de Pinhais, não teria sido possível me recuperar. E meus planos são os melhores, para viver bem, viver em sociedade, ter as coisas de um cidadão comum”, diz Luiz Fernando Meira Vilela, de 40 anos.
Ele admite que para essa superação, é preciso bastante esforço, por isso, cumprir uma rotina é essencial: “A situação de rua é muito difícil. Olhando esse ano que passei, me vejo no caminho certo hoje, sentindo no dia a dia, com os horários para cumprir, sendo exigido uma responsabilidade e faz total diferença, deixa eu me sentir uma pessoa ‘normal’ novamente. Eu já era uma pessoa ‘normal’, e agora estou reaprendendo a viver de novo.”
Sobre o programa
Inédito em Pinhais, o Supera Rua está embasado na Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPSR), que visa garantir acesso amplo e seguro aos serviços públicos.
O acesso ao Programa Supera Rua pode ser espontâneo ou por encaminhamento de outros serviços sociais, sujeito a validação técnica. Consulte o Creas para mais informações. Atendimento de segunda a sexta, das 8h às 17h. Endereço: Rua 25 de Dezembro, 363, bairro Estância Pinhais. Telefone/WhatsApp: (41) 99228-2982.