Grande Curitiba

Jovem relata dificuldades na busca do 1º emprego: ‘Preciso de oportunidade para ter experiência’

Segundo o governo do Paraná, pandemia prejudicou recrutamento de jovens, mas avanço da vacinação reaqueceu contratações. Estado tem cerca de 5 mil vagas de estágio abertas
9 de maio de 2022 às 09:22

Aos 20 anos de idade, Nicolas Ribas Andrade Mattos de Oliveira procura há mais de um ano por um estágio ou trabalho com carteira assinada. A vontade de trabalhar parece não ser suficiente.

Ao g1 ele conta que nem mesmo as menções a trabalho voluntário, a cursos técnicos e à graduação em andamento no currículo têm ajudado a conseguir o primeiro emprego, em Curitiba.

Conquistar uma vaga no mercado de trabalho também representa para ele o caminho para outro objetivo importante, o de voltar para a faculdade de Engenheira Mecânica.

“O mercado de trabalho procura pessoas com experiência. Acho que às vezes não entendem que podem contratar alguém sem experiência e moldar como a empresa quer. É complicado. Preciso de oportunidade para ter experiência”, contou.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação entre os jovens, de 18 a 24 anos, atingiu 30,8% no país no quarto trimestre de 2021.

A analista de gestão de pessoas Mariana Oliveira concorda que a procura pela primeira oportunidade no mercado de trabalho pode ser desafiadora, principalmente por causa das exigências.

Entretanto, ela explica que, apesar do conhecimento técnico ser um fator importante, o comportamento tem sido cada vez mais levado em consideração.

“O conhecimento técnico pode ser aprendido, mas mudar comportamento é muito mais complicado. Desta forma, as empresas buscam pessoas que tragam ideias, que tenham interesse em aprender, proatividade para identificar oportunidades, comprometimento, bom relacionamento com a equipe de trabalho e que contribua para o crescimento da instituição.”

O rapaz de Curitiba depende dos avós, que não têm condição de pagar a graduação dele. Além do marco do primeiro emprego, essa busca tem mostrado a dificuldade de conseguir a independência financeira.

“Eu acho bem frustante. É complicado. Têm muitas pessoas passando por dificuldade e que querem trabalhar, mas por falta de oportunidade não podem.”

Efeitos da pandemia

A Secretaria da Justiça, Família e Trabalho (Sejuf) do Paraná explica que, dentre os diferentes impactos, a pandemia do coronavírus prejudicou a colocação de adolescentes e jovens no primeiro emprego em 2020.

Conforme os dados da Sejuf, em 2020, o estado teve saldo negativo nos postos de trabalho na faixa etária de 14 a 24 anos.

O levantamento leva em consideração os registros da secretaria, pela Intermediação de Mão de Obra (IMO), e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

De acordo com a chefe do Departamento do Trabalho, Suelen Glinski, com início da retomada da economia em 2021, o mercado voltou a empregar os mais novos.

“Durante a pandemia muitas empresas deixaram de contratar aprendizes ou não renovaram os contratos pela questão do teletrabalho, principalmente dos menores de 18 anos, que tiveram de desempenhar suas funções em home office. Foram os últimos a vacinarem também em função da faixa etária. Agora, com a liberação das medidas restritivas da pandemia e avanço da vacinação, as empresas voltaram a contratar aprendizes, em especial os menores de 18 anos.”

Segundo Suelen, o programa Jovem Aprendiz tem também o atrativo de formar esse novo funcionário.

“Para o empregador é ótimo, pois ele forma este profissional de acordo com sua necessidade. Nesses contratos, os jovens fazem um curso de aprendizagem em uma instituição formadora na área ou atividade de atuação da empresa contratante.”

Na prática, o que devo fazer para conseguir o 1º emprego?

Busque conhecimento

De acordo com a especialista em recrutamento e seleção, na falta de experiência para o primeiro emprego, o candidato deve estar munido do conteúdo que buscou ao longo dos anos.

Mariana orienta jovens a fazer cursos, trabalhos voluntários, participar de workshops e projetos para desenvolvimento profissional.

Além disso, ressalta que há sites e instituições com oportunidades gratuitas e com certificado.

“Quando isso chega na mão do recrutador, ele vai entender que a pessoa não teve o primeiro emprego CLT, mas, mesmo assim, buscou a oportunidade e formas de ganhar algum tipo de experiência. Esse é o primeiro passo para quando não tenho o que pôr no meu currículo”, explicou.

Pesquise a empresa

Atualmente, muitas entrevistas têm sido feitas de forma remota e, por isso, algumas pessoas não levam o processo seletivo tão a sério, segundo Mariana.

“Muita gente chega no momento da entrevista e, pasmem, ela não sabe nem para qual processo está participando. É importante a pessoa pesquisar a vaga que está concorrendo, o que vai fazer, para não acontecer isso no momento da entrevista”, contou.

Outro erro comum é o candidato não conhecer a empresa para a qual concorre a uma vaga.

Quando isso acontece, alerta a especialista, o recrutador entende que não houve preparação para a entrevista, pois a pessoa não pesquisou sobre o lugar onde quer trabalhar.

“Mesmo que seja de forma remota, a pessoa também deve se preparar. Quando falo de aparência, não é questão de beleza, mas é questão do preparo em vestir uma roupa adequada, até estudar o dress code da empresa, pontos que indicam que ele está preparado.”

Nervosismo na entrevista

Ficar nervoso ou ansioso antes é uma entrevista é algo normal, segundo a especialista. Por isso, o que pode ser feito para amenizar isso é o candidato se preparar, por exemplo, estudando sobre a empresa.

No caso das entrevistas remotas, a orientação é se antecipar e deixar tudo pronto com pelo menos 10 minutos de antecedência. Assim, é possível fazer tudo com calma e garantir que tudo funcionará.

Seja verdadeiro

Uma das recomendações mais importantes, segundo Mariana, é ser verdadeiro do início ao fim do processo de seleção.

Ela explica que, às vezes, o nervosismo faz com que pessoas imaginem o que recrutador pode perguntar. Nesse caso, se o candidato acha que não vai atender as expectativas, pode acabar inventando alguma informação, mas isso não deve ser feito.

“Seja simplesmente você, estude a empresa que está se candidatando, entenda a vaga para você ter conteúdo e demonstrar isso para o recrutador no momento da entrevista.”

Fonte: G1