Grande Curitiba

Jardim comestível da Fazenda Urbana une paisagismo e agroecologia

13 de julho de 2021 às 14:58
(Foto: Levy Ferreira/SMCS)

COM ASSESSORIAS – Entre hortas convencionais de legumes e frutas, estufas e canteiros elevados com temperos, uma inusitada proposta de agricultura sustentável na cidade pode até passar despercebida na Fazenda Urbana da Prefeitura de Curitiba. Mas basta percorrer o curioso jardim para se encantar com o chamado foodscaping (paisagismo comestível) ou agrofloresta sintrópica, um conjunto de princípios e técnicas que integram em uma mesma área o cultivo de plantas paisagísticas, hortaliças e frutas, além do uso de materiais reciclados.

O cruzamento de jardim com plantas ornamentais e cultivo de alimentos sem agrotóxico é um dos cinco projetos experimentais de startups, ONGs e pesquisadores do Vale do Pinhão na Fazenda Urbana, em uma parceria da Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN) e Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação.

“A assimetria dos níveis e a diversidade de espécies, integrando flores e plantas ornamentais, árvores de pequeno porte, hortaliças, frutas, temperos, ervas medicinais, plantas comestíveis não convencionais (pancs) e flores comestíveis, são o segredo. Parece que tudo nasceu espontaneamente em meio ao jardim”, conta a arquiteta e paisagista Beatriz Boell, integrante do coletivo.

Nesse tipo de projeto de agricultura urbana, que une agroecologia, princípios do feng shui, arquitetura e até agricultura indígena, o objetivo é tanto propiciar uma alimentação saudável como estimular todos os sentidos: tato, olfato, paladar, audição e visão.

“O aroma das ervas e dos temperos, por exemplo, desperta o olfato e pode trazer à tona boas recordações e sentimentos”, afirma Arthur Ferreira, produtor cultural, agricultor e também integrante do coletivo.

Equilíbrio e harmonia

Um jardim comestível tem ainda um papel de equilibrar ambientes e harmonizar as pessoas. Para isso, o local pode receber “ilhas de diversidade” de plantas, com canteiros trazendo plantas de proteção (como espada-de-são-jorge e arruda) e conceitos do feng shui, que criam um verdadeiro “oasis” no jardim da casa. O uso de materiais naturais reciclados, como bolachas de toras de madeira descartas que se transformam em caminhos no jardim e troncos ou pedras que são ressignificados como taludes de proteção de canteiros, também faz parte do conceito foodscaping.

De acordo com Marcelo Silvério, engenheiro agrônomo do coletivo, a proposta do jardim comestível pode ser aplicada em espaços de todos os tamanhos.

“Desde quintais até varandas dentro de apartamentos. A ideia não é criar uma grande plantação e sim ter um espaço que embeleza o ambiente dentro do conceito agroecológico, usando plantas adequadas para a culinária, e que tragam harmonia e também forneçam pólen e néctar que atraem uma variedade de insetos, como formigas, abelhas e borboletas”, salienta ele.

Silvério explica que são várias as opções de plantas possíveis para se cultivar em um jardim comestível. Entre hortaliças, ervas e condimentos, as mais fáceis de cuidar são o alecrim, o hortelã, a salsa, o tomilho, o manjericão. As pimentas também se desenvolvem facilmente.

“Há ainda flores e espécies comestíveis pouco conhecidas como ora-pro-nóbis e peixinho da horta, que compõem receitas criativas”, acrescenta o agroecologista.

Cursos

Além de implantar o jardim comestível experimental na Fazenda Urbana, o Coletivo Agroecologia em Movimento também pretende inspirar os curitibanos a cultivar seus próprios alimentos oferecendo capacitações gratuitas. Cursos sobre cultivo agroecológico, consumo consciente e uso integral de alimentos serão ministrados pelos integrantes do grupo no próprio espaço da Prefeitura, que por enquanto está fechado para visitação devido à pandemia.

Luiz Gusi, secretário municipal de Segurança Alimentar e Nutricional, explica que o apoio ao desenvolvimento de novas tecnologias e práticas agrícolas sustentáveis, como o jardim comestível, integra as bases da Fazenda Urbana de Curitiba.

“No espaço da Prefeitura, estão sendo compartilhadas soluções de manejo agrícola consciente, que ajudam a melhorar a produção de alimentos, reduzir custos, conscientizar sobre o problema do desperdício de alimentos e também recuperar o contato do homem à terra”, afirma ele.