Delegado acusado de duplo feminicídio no Paraná: relembre o crime ponto a ponto

Em março de 2020, Maritza Guimarães de Souza e a filha Ana Carolina de Souza foram mortas dentro de casa. O acusado pelo crime é o delegado da Polícia Civil do Paraná (PC-PR), Erik Busetti, que está preso desde então. Ele era marido e padrasto das vítimas, respectivamente.
Segundo a investigação, Erik e Maritza estavam em processo de separação, após passarem cerca de 10 anos juntos.
Maritza tinha 41 anos e era policial civil. A enteada de Erik, Ana Carolina, tinha 16 anos. Até janeiro de 2019, Erik estava à frente do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes (Nucria).
Relembre crime ponto a ponto:
1. O crime
Imagens de câmeras de segurança mostram que Erik e Maritza discutiram por pelo menos três horas antes do crime. A investigação aponta também que Maritza tentou fazer as malas, indicando que sairia de casa, mas ele a impediu.
Conforme a polícia, após Maritza ir para a saída de casa, Erik bate na porta do quarto de Ana, que levanta da cama e abre a porta. Ele a agride com chutes e tapas. Maritza volta para tentar defender a filha.
Em seguida, ele dispara contra as duas, que caem abraçadas no chão. A câmera não mostra qual das duas vítimas foi baleada primeiro.
A investigação aponta que os disparos foram feitos pela arma que o delegado usava no trabalho. Depois do crime, ele entregou a arma à polícia.
A filha do casal, de 9 anos, estava dormindo no momento do crime. Segundo a a delegada Camila Cecconello, após efetuar os disparos, Busetti levou a filha para a vizinha e pediu para ela ligar para a Polícia Militar (PM-PR).
Quando o Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma em Emergência (Siate) chegou ao local, encontrou as vítimas mortas. Ele foi preso em flagrante naquela noite. A delegada disse ainda que, na cena do crime, Busetti estava em estado de choque.
2. Interrogatório: 5 de março de 2020
No dia seguinte, Erik ficou calado perante a polícia no interrogatório. Antes, em conversa com policiais militares, ele confessou o crime, conforme a investigação.
Erik foi autuado por duplo feminicídio e detido no Complexo Médico-Penal (CMP) em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.
3. Sepultamento das vítimas: 6 de março de 2020
Em 6 de março de 2020, mãe e filha foram sepultadas no município de Piraí do Sul, na região dos Campos Gerais do estado.
No mesmo dia, a Justiça converteu a prisão em flagrante de Erik para preventiva. Com isso, ele ficou preso sem prazo determinado para deixar a prisão.
Na época, o advogado de Erik afirmou que chegou a solicitar o pedido de liberdade do delegado com o uso de tornozeleira eletrônica mas, segundo ele, a Justiça negou.
4. Depoimento da irmã da vítima: 9 de março de 2020
A irmã de Maritza, Karoline de Souza Machado, prestou depoimento à polícia em 9 de março de 2020. O depoimento durou 40 minutos.
Na ocasião, ela contou que a irmã e a sobrinha reclamavam que Erik era agressivo e que tinha um comportamento perigoso.
5. Erik é indiciado: 16 de março de 2020
Em 16 de março de 2020, o delegado foi indiciado pela polícia por duplo feminicídio com incidência de aumento de pena por ter cometido o crime próximo da filha de nove anos.
6. Erik é denunciado: 20 de março de 2020
Em 20 de março de 2020, o delegado foi denunciado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) por duplo feminicídio.
As promotoras do Ministério Público (MP-PR) responsáveis pelo caso apontaram que Ana Carolina de Souza e Maritza Guimarães de Souza não puderam se defender.
7. Delegado vira réu: 23 de março de 2020
O delegado virou réu pelo duplo feminicídio da esposa e enteada dele. A denúncia foi recebida pela Justiça no dia 23 de março de 2020.
8. Decisão da Justiça: 8 de outubro de 2020
Em 8 de outubro, a juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler, da 1ª Vara Privativa do Tribunal do Júri do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), determinou que o delegado vá a júri popular.
Na decisão, a juíza também negou o direito do delegado de recorrer ou aguardar o julgamento em liberdade.
Conforme a defesa da família das vítimas, a Justiça marcou o júri popular do delegado para 15 de maio de 2024.
9. Delegado preso é investigado por acessar sistema restrito: 11 de agosto de 2023
Em 11 de agosto de 2023 a Polícia Civil abriu um inquérito para investigar o acesso do delegado Erik Busetti ao sistema policial de acesso restrito. O login e a senha dele foram usados enquanto ele estava na cadeia.
A portaria que determinou a investigação afirma que Erik teria acessado indevidamente os sistemas da Polícia Civil para consultas pessoais o que pode, em tese, caracterizar crime de violação de sigilo funcional.
A comprovação dos acessos está em relatório emitido pela Companhia de Tecnologia de Informação do Paraná (Celepar). Pelos dados do documento, o delegado preso acessou o sistema várias vezes para consultar o próprio nome e outras informações envolvendo autoridades.
10. Delegado continua recebendo como servidor
Segundo o Portal da Transparência do Governo do Paraná, mesmo detido, Erik Busetti consta como servidor ativo e recebe salário pelo cargo público. Em novembro de 2023, a remuneração bruta foi de R$ 26.762,70.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (Sesp), qualquer servidor só pode parar de receber em caso de exoneração, o que pode ocorrer por decisão judicial no processo criminal ou por procedimento administrativo da Polícia Civil.
Ainda conforme a Sesp, uma decisão judicial travou o andamento de um procedimento interno que poderia resultar na demissão de Erik, dizendo que a PC só pode continuar a apuração após uma nova decisão judicial.
Fonte: G1