Grande Curitiba

Mecânico que liberou ônibus sem freio responderá pela morte de empresário em Curitiba, decide polícia

Horas antes do engavetamento, ônibus apresentou falha mecânica nos freios e mecânico liberou veículo voltar rodando até a garagem. Porém, no caminho, freios falharam e houve a batida
20 de maio de 2025 às 18:00
(Foto: Redes Sociais)

O mecânico Everaldo Lima Lins, de 46 anos, responderá pelo homicídio do empresário Marcos Lazario, que morreu após o carro em que estava ser esmagado por um ônibus do transporte coletivo de Curitiba.

O engavetamento que vitimou Lazario foi no dia 13 de dezembro no cruzamento das avenidas Iguaçu e Presidente Arthur Bernardes. Foram 10 veículos envolvidos e, além da morte, ao menos quatro pessoas ficaram feridas.

Horas antes da batida, o ônibus apresentou uma falha mecânica nos freios e o mecânico foi chamado para avaliar a situação. Ele liberou o veículo para voltar rodando até a garagem. Porém, no caminho, os freios voltaram a falhar e o motorista não conseguiu parar o ônibus, momento em que aconteceu o engavetamento. Relembre a seguir.

A defesa de Everaldo afirmou que vai analisar o inquérito e se manifestar posteriormente.

A empresa Expresso Azul, responsável pelo ônibus, optou por não se manifestar.

Responsabilidade

A Polícia Civil concluiu que a conduta do mecânico “ultrapassa os limites da mera imprudência técnica e adentra o campo do dolo eventual, impondo a necessária responsabilização penal devido à gravidade do caso”.

Segundo o inquérito policial, por mais que Everaldo não tivessa a intenção de provocar o acidente, a postura adotada por ele demonstrou uma aceitação consciente do risco de causar a morte de alguém, uma vez que ele é experiente na área e, mesmo sabendo das consequências da liberação apressada de um ônibus, optou por não interromper a operação.

Conforme a polícia, isso demonstra uma “indiferença à segurança coletiva”.

“Acreditamos que qualquer homem médio, em sua sã consciência, naquele momento, optaria por guinchar o veículo até o pátio da empresa, ou até uma oficina, para que efetivamente fosse feito um reparo mais criterioso”, detalha o delegado Edgar Santana.

A conclusão do inquérito policial será analisada pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR), que decide se oferece denúncia à Justiça, ou não.

Falha mecânica horas antes da batida

Naquele dia, conforme a investigação, o ônibus apresentou uma falha mecânica no início da manhã. O motorista interrompeu a viagem por volta das 8h, na Praça Rui Barbosa, ponto de início e final do itinerário.

Seguindo o protocolo previsto no contrato de concessão, a equipe de manutenção da empresa operadora da linha foi chamada pelo motorista e realizou uma avaliação no local.

A equipe concluiu que o veículo deveria ficar fora de operação e seguir para a garagem, sem a necessidade de caminhão guincho. Por conta disso, no momento da batida, não havia passageiros no veículo. Na época, a polícia chegou a ouvir Everaldo.

No acidente, o empresário Marcos Antônio Lazario, de 49 anos, morreu. Ele era dono de uma churrascaria que fica cerca de 900 metros de distância do local da batida, na Vila Izabel, e estava em um dos veículos atingidos pelo ônibus.

Três mulheres, de 46 e 27 anos, e uma adolescente, de 14 anos, também ficaram feridas na batida. Elas foram levadas ao Hospital Evangélico.

Imagens de câmeras de segurança mostram o motorista do ônibus do transporte público da capital buzinando antes do engavetamento, na tentativa de fazer outros motoristas saírem da frente. Apesar do alerta, não houve tempo para que as vítimas desviassem. Assista:

Laudo confirmou problema nos freios

Um laudo feito pela Polícia Científica do Paraná indicou que o ônibus estava com problemas no sistema de freios.

Conforme o laudo, uma mangueira que compõe o sistema de ar estava rasgada e com um furo, o que não a permitia gerar pressão suficiente para os freios e suspensões.

“É possível concluir que, nos momentos imediatamente anteriores ao acidente, o sistema pneumático estava ineficiente, por queda brusca de pressão de alimentação ocasionada devido a não estanqueidade do sistema, no qual a mangueira de descarga do compressor apresentava um rasgo longitudinal e outro furo em sua lateral, não conseguindo, portanto, gerar pressão de sistema suficiente de 10,8bar a todos os sistemas dependentes (freios, suspensão e auxiliares) que dependem da pressão de ar comprimido para funcionar e dessa forma, encontravam-se prejudicados”, indica o documento.

Além disso, segundo o laudo, o sistema de frenagem de emergência traseiro estava desabilitado, isolado por ação humana intencional. Porém, não foi possível apontar se a desabilitação aconteceu durante um reparo emergencial que o veículo passou na Praça Rui Barbosa, ou antes.

O documento aponta que é possível que um residual de pressão manteve os sistemas operacionais funcionando temporariamente. Conforme o laudo, “nessa condição, o veículo ainda poderia se deslocar por uma curta distância, sem que a ausência de freios fosse imediatamente perceptível”.

Por fim, o laudo indica que não foi constatada a checagem de pontos importantes para a segurança do veículo, após o ônibus sofrer a intervenção externa emergencial, assim como é feita quando o motorista assume a linha com o veículo ainda na garagem.

Fonte: g1